CORREIO POPULAR - 11/10/2015
Primeiro a vida, depois o futebol, e por fim, o álcool.
Sou ferrenho defensor da não comercialização de bebida alcoólica dentro dos estádios, luto pela retirada da propaganda de bebida alcoólica da televisão e dos meios esportivos. Se conseguimos tirar a do cigarro, conseguiremos tirar a da bebida também. O projeto de Lei do vereador Dr. Cirilo, pelo qual tenho grande respeito e que prega liberar o comércio do álcool dentro dos estádios, é um retrocesso para Campinas e para o futebol.
Segundo pesquisas, após a restrição de bebidas, a violência nos estádios caiu em 70%. Reduziram-se os atendimentos na enfermaria. Foi necessário o aumento do efetivo da polícia feminina, em função da maior presença de crianças e mulheres nos jogos.
Minas Gerais foi o primeiro estado do Brasil a proibir a venda de bebida alcoólica nos estádios. A origem foi um termo de ajustamento de conduta assinado entre o Conselho Nacional dos Procuradores Gerais do Ministério Público dos Estados e a CBF, em 2008.
Dois anos depois houve a inclusão da proibição no Estatuto do Torcedor, o Artigo 13, parágrafo II que determina “não portar objetos, bebidas ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência”.
O que mais me impressiona em todo esse projeto de Lei é o argumento de que a bebida alcoólica liberada nos estádios gerará renda para os clubes. Ora, será que não existe outra maneira de gerar fonte de renda para os clubes de futebol sem a necessidade de colocar vidas em risco com atos de violência potencializado pelo uso e abuso do álcool ?
Vale lembrar que as marcas de cigarro não patrocinam mais eventos esportivos e nem propagam anúncios nos meios de televisão. Nem por isso o esporte faliu. Não seria um retrocesso liberar novamente a bebida alcoólica dentro do esporte mais popular do mundo?
Sou favorável a extinção de qualquer tipo de bebida alcoólica dentro dos estádios, fiscalização severa junto ao comércio clandestino, assim evitam-se tumultos na entrada e saída do jogo, momentos em que as pessoas se aglomeram e acabam entrando nas partidas em cima hora - dificultando o esquema de segurança e causando filas e encontro de torcidas rivais. Por fim, sou a favor de uma estratégia de redução de danos e de prevenção através de fortes campanhas educativas dentro dos estádios e em todos os estabelecimentos nas proximidades. Dentro dos estádios apenas a adrenalina natural de uma partida futebolística, camisas dos times, liberação das bandeiras, faixas, músicas e gols. Nas lanchonetes, comidas variadas, do pastel a comidas naturais, sucos diversos, café, refrigerantes e água.
O álcool é a droga responsável pelos maiores atos de violência verbal, física, doméstica e sexual, além de ser responsável pela 3ª doença que mais mata no mundo: o alcoolismo. É também responsável pelos maiores gastos na saúde pública, sendo que 70% dos acidentes de trânsito, desestruturas familiares e atos de criminalidade também derivam do uso e abuso da bebida alcoólica.
Tenho a absoluta certeza de que os clubes de futebol de Campinas conseguem gerar receita sem a necessidade de apoio de qualquer droga. Sugiro a reflexão dos nobres vereadores favoráveis a esse retrocesso para a sociedade campineira. E deixo a ideia de criar um projeto de Lei que obrigue as grandes empresas nacionais e multinacionais destinarem, quando se instalarem em Campinas, a doação de recursos para os clubes em troca de redução em seus impostos. Assim, preservamos a família campineira, a segurança nos estádios e o consumo consciente sem propagar - além do uso - o abuso da droga mais perigosa no Brasil, o álcool.
Nelson Hossri Neto
Especialista em Dependência Química-UNIFESP